A organização do corpo
Foi-se o tempo em que restavam aos avós atividades pacatas como tricotar, jogar gamão e afins. Hoje, eles estão cada vez mais ativos, levando vantagem sobre muitos garotões por aí. Não é à toa que a melhor idade venha aderindo em massa ao pilates, programa de condicionamento físico que proporciona múltiplos benefícios. O praticante pode, simultaneamente, trabalhar a flexibilidade, incrementar a consciência corporal e ganhar massa muscular. A atividade é de baixo impacto e personalizada, já que as turmas costumam ter, no máximo, três alunos. A bailarina Alice Becker é uma das responsáveis pela introdução do método no Brasil. Ela travou contato com os ensinamentos de Joseph Pilates (veja box) há 18 anos, nos Estados Unidos, enquanto se recuperava de uma grave contusão no joelho. Os resultados promissores levaram-na a abrir uma empresa especializada em cursos e equipamentos. Segundo ela, o método é perfeito para o público maduro. “Com a idade, as pessoas tendem a perder o equilíbrio, elas ficam com medo de cair e acabam restringindo seus movimentos. Os exercícios são pensados de forma a ajudar a superar os desafios de cada um. Aos poucos, recupera-se a confiança”, avalia. Outra vantagem, segundo Alice, é que os treinos simulam atividades do dia a dia. “Os movimentos têm enfoque funcional: o aluno aprende a se sentar de maneira correta, a agachar, enfim, a realizar as funções normais, conquistando um corpo que execute bem essas funções.” João Bosco, 69 anos, concilia treinos regulares de pilates com os gramados de futebol. Orgulhoso de suas atividades, o aposentado relata que a prática lhe rendeu força física e uma melhor postura. “Estou com porte de militar. Além disso, senti melhoras no meu equilíbrio e hoje eu atravesso a rua com mais segurança”, comemora. Ele buscou o método para combater as dores no joelho que vinha sentindo. “Fortaleci a musculatura da coxa — isso me ajudou no futebol e me deixou mais ativo para brincar com os meus netos,” detalha. O educador físico Luís Fernando Jardim, que trabalhou com musculação durante 13 anos, dedica-se ao ensino de pilates há dois. “É um trabalho feito de forma global, enquanto na musculação os exercícios são segmentados. A riqueza dessa técnica está em conceber o corpo como um todo e observar a individualidade de cada aluno”, resume.
Treino personalizado
No pilates, os exercícios são feitos de forma precisa — durante os movimentos, é necessário manter o foco na respiração e na contração constante dos músculos abdominais. “Quando você aciona essa caixa de força, são recrutados os músculos responsáveis pela estabilidade do corpo,” ensina o professor Fábio Pires. Com o progresso da consciência corporal, as pessoas aprendem a usar os músculos na medida certa, previnindo lesões. A aposentada Marília de Almeida, 64 anos, pratica pilates há cinco meses e está supersatisfeita com os resultados. “Sinto- me mais ágil, leve e alegre. Posso até chegar aqui cansada, mas, depois dos exercícios, saio relaxada e disposta.” Ela se exercita três vezes por semana. “Já faz parte da minha rotina, quando não venho, fico mal.” Augusto Pires, 65 anos, começou a praticar pilates por causa de dores lombares decorrentes de um problema degenerativo. “Passei a conviver melhor com esse incômodo. Os exercícios fortalecem a musculatura, o que ajuda a sustentar a coluna, e o alongamento traz um alívio”. Sua professora, Kênia Sampaio, explica que os treinos são personalíssimos. “Quando ele chega com dor na coluna, por exemplo, eu procuro liberar a tensão com um alongamento. E aí, conforme ele vai respondendo, eu indico os exercícios mais apropriados.” Para Kênia, essa atenção aos detalhes faz do pilates a técnica ideal para quem quer se exercitar sem o risco de lesões e sem agravar problemas já existentes. No entanto, ela afirma que é importante aliar a prática a exercícios aeróbicos. “Aqui, os alunos organizam melhor o corpo, fortalecem os músculos e corrigem a postura, mas também indico que eles trabalhem o sistema cardiorrespiratório com caminhadas ou corridas, por exemplo.”
História do Pilates
Joseph Pilates nasceu em Mönchengladbach, na Alemanha, em 1881. Ele sofria de raquitismo e febre reumática. Talvez por isso, dedicou a vida a estudar métodos que o ajudassem a melhorar sua condição física.
– Na juventude, Pilates estudou e especializou-se em musculação, mergulho, esqui e ginástica. No período da Primeira Guerra, foi mandado para uma ilha inglesa onde trabalhou num hospital com exilados e mutilados.
– Lá, ele iniciou o desenvolvimento da técnica que usava molas nas macas do hospital para a realização de exercícios de reabilitação. Anos depois, retornou à Alemanha, onde permaneceu pouco tempo.
– Finalmente, em 1923, Pilates mudou-se para Nova York e abriu seu primeiro Studio de Pilates. A partir dos anos 1940, seu trabalho começou a ter repercussão, principalmente entre os dançarinos. Trabalhou até sua morte, em 1967, aos 87 anos. Sua mulher, Clara Pilates, assumiu a direção do estúdio, dando continuidade ao seu legado.
João Bosco comemora o preparo físico adquirido com o pilates: “Estou com porte de militar” Marília de Almeida até “viciou” no treino: “Quando não venho, fico mal” Augusto Pires encontrou na prática um alívio para as dores lombares crônicas que o exasperavam Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press Marcelo Ferreira/CB/D.A Press Marcelo Ferreira